|
Arquivo Pessoal |
Ave! Maria!
Fagundes Varela (1841-1875)
A noite desce, - lentas e tristes
Cobrem as sombras a serrania,
Calam-se as aves - choram os ventos,
Dizem os gênios: - Ave-Maria!
Na torre estreita de pobre templo
Ressoa o sino da freguesia,
Abrem-se as flores, - Vésper desponta,
Cantam os anjos: - Ave! Maria!
No tosco alvergue de seus maiores,
Onde só reinam paz e alegria,
Entre os filhinhos o bom colono
Repete as vozes: Ave! Maria!
E, longe, longe, - na velha estrada,
Pára, - e saudades à pátria envia,
Romeiro exausto, que o céu contempla
E fala aos ermos: - Ave! Maria!
Incerto nauta por feitos mares,
Onde se estende névoa sombria,
Se encosta ao mastro, descobre a fronte,
Reza baixinho, - Ave! Maria!
Nas soledades, sem pão nem água,
Sem pouso e tenda, sem luz nem guia,
Triste mendigo, que as praças busca,
Curva-se e clama: - Ave! Maria!
Só nas alcovas, nas salas dúbias,
Nas longas mesas de longa orgia
Não diz o ímpio, - não diz o avaro,
Não diz o ingrato: - Ave! Maria!
Ave! Maria! - No céu, na terra!
Luz da aliança! - Doce harmonia!
Hora divina! - Sublime estância!
Bendita sejas! - Ave! Maria!