"Ter notícias suas é como abrir uma janela, mas ainda não é como abrir uma porta. Talvez repita demasiado a palavra porta, mas precisa entender que aqui essa palavra é quase uma obsessão e, embora possa lhe parecer incrível, muito mais obsessiva que a palavra grade. As grades estão aí, são uma presença real, admitida, compreendida em toda a sua chata magnitude. Mas as grades não podem ser outra coisa senão o que efetivamente são. Não há grades abertas e grades fechadas. Em compensação, uma porta é muitas coisas. Quando está fechada, e sempre está, é a clausura, a proibição, o silêncio, a raiva. e abrisse (não para um recreio ou para um trabalho ou para um castigo, que são várias outras maneiras de estar fechada, mas para o mundo) seria a recuperação da realidade, da gente querida, das ruas, dos sabores, dos cheiros, dos sons, das imagens e do tato de ser livre. Seria, por exemplo, a recuperação de você e de seus braços e de sua boca e do seu cabelo e ah, de que adianta tentar dar voltas em um trinco que não cede, em uma fechadura empedernida." [in Primavera num espelho partido de Mario Benedetti]