domingo, 28 de outubro de 2018

O que...

O Que
Terezinha Malaquias

Vazio, solidão
Vácuo, interrogação
Desespero
Por não saber o que quero
Não saber quem sou
Por que sou
Se é que sou algo
Ou talvez alguém
Eu não sei quem sou
Nem mesmo sei se sou
Mas sei que quero
Quero ser algo ou alguém
Quero encontrar o  meu eu
O meu eu gente, pessoa, mulher
Quero encontrar uma razão
De ser vida
Eu quero não sei bem o quê
Mas quero ser
Resta-me saber o quê.


sábado, 27 de outubro de 2018

Homem precipitado

"Viste um homem precipitado no falar? / Mas se devem dele esperar loucuras do que a emenda. / Aquele que cria delicadamente o seu criado desde a infância, / depois experimentá-lo-á contumaz. / O homem colérico excita rixas; / e o que facilmente se  indigna será mais propenso a pecar. / A humilhação segue o soberbo; / porém o humilde de espírito será glorificado. / Aquele que se associa com o ladrão, aborrece a sua própria alma; / ouve o juramento, e nada o denuncia. / Aquele que teme o homem, depressa cairá; / o que espera no Senhor será levantado. / São muitos os que buscam a verdadeira sentença de cada um. / Os justos abominam o homem ímpio, / e os ímpios abominam aqueles que estão no caminho reto. O filho que guarda a palavra (de Deus) será isento da perdição."        [Prov 29,20-27]



sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Gentileza

“A gentileza é a essência do ser humano. Quem não é suficientemente gentil não é suficientemente humano.” [ Joseph Joubert]




domingo, 21 de outubro de 2018

Corpo


Corpo
Terezinha Malaquias

Sinto o teu corpo
Quente
Macio
Envolvente
Sobre o meu corpo
Corpo a corpo
Pele a pele
Fazendo uma mistura total
De repente
Não são mais corpos
E sim corpo
Porque os dois corpos
Se uniram
Numa integração tão grande
E profunda
Que se tornou um só
Sinto você meu amor
Não junto de mim
Mas dentro de mim
Você que vai entrando 
Pelas minhas entranhas
Invadindo todo o meu ser
Num prazer total 
Comunhal
E eternal.



sábado, 20 de outubro de 2018

Um Exemplo




Um exemplo...

É gostoso ler, nos jornais e revistas, aquelas pequenas notas que não chamam atenção de ninguém, mas são essas, pequenas notas, as possuidoras de algumas preciosidades.
Transcrevo uma nota que foi publicada, no domingo, 27 de maio de 2012, página 19, do Diário de São Paulo, na coluna “Minuto de Silêncio”.


Leocádia Cintra de Campos (1907-2012)
Atraída pelos livros, quando já tinha lido todos os que estavam próximos, Leocádia recorria para as bulas de remédios, atitude adotada para não perder o hábito da leitura. Os muitos livros que acumulou com o tempo ela doou  para uma biblioteca do bairro onde morava. Outros foram dados de presente para os parentes. Perfeccionista, fazia os tricôs em casa. E não gostava de cozinhar. Filha de um farmacêutico que possuía um negócio na Rua Augusta, na região central de São Paulo, e muitos terrenos na região da Zona Leste, sua família era muito conhecida. Leocádia, que era viúva havia mais de 20 anos, faleceu com 105 anos. Deixa um filho.







sexta-feira, 19 de outubro de 2018

sexta


“... São tempos difíceis, mas o que eu peço a você é, não deixe de ter esperança. Não deixe de fazer o bem, mesmo quando não há retorno. Não deixe ter fé no amor, sobre tudo, no amor.”   [Laureane Antunes]



domingo, 14 de outubro de 2018

Mosaico



Mosaico
Paulo HenriquesBritto



Os dias a amontoar-se
como se rumo a um sentido,
algo que se assemelhasse
a uma meta, ou um destino,


mas formando (sem sabê-lo,
claro — o que sabem os dias?)
uma estrutura em relevo,
espécie de marchetaria,

 com padrão indecifrável
(por não seguir um projeto),
mas assim mesmo um resguardo,
um remédio contra o medo


de nada haver — nem padrão,
nem projeto, nem destino —
no mundo, nada senão
o amontoar-se dos dias.




sábado, 13 de outubro de 2018

Ponto

[ ... ]
Caminhão costurou e descosturou frases obscuras e sem fundamento que discorriam do centro em direção à periferia. Palavra-ônibus, sua mulher, estranhou ao vê-lo chegar em casa. Ele, que costumava voltar do trabalho apenas para o almoço ou no fim do dia, seguido sempre de uma exclamação, aparecia desta vez no meio da manhã e com um desanimado ponto final no para-choque dianteiro. “Caminhão”, ela perguntou, “aconteceu alguma coisa?” “Algo horrível: atropelei um ponto”, ele contou, nervoso. “Será este aqui?”, perguntou ela, mostrando o para-choque. Ele correu para ver. “Pensei que o havia esmagado ou atirado longe. Parece estar vivo.” Caminhão carregou o ponto com todo o cuidado e deitou-o na cama do quarto de hóspedes. Superlativo, o cachorro, pressentindo alteração na rotina da casa, começou a latir no pátio. Caminhão pediu à mulher que o fizesse parar: “Ele está chamando atenção. Ninguém pode saber o que aconteceu”. Superlativo era inteligentíssimo e, por isso, muito inquieto. Mas era também o mais obediente dos cachorros. Palavra-ônibus foi até a janela basculante da cozinha, que dava para o pátio, mandou-o ficar quieto e ele obedeceu.
No local do acidente, o guarda-pó percebeu que a confusão era grande demais e pediu reforço imediato. Enviaram-lhe um guarda-roupa e um guarda-volumes. Mesmo assim a situação foi ficando fora de controle, pois a pontuação, que se movimentava com muita rapidez, estava exaltada além da conta. Exclamações denunciavam aos gritos a falta de segurança no trabalho. Interrogações questionavam a competência dos guardas e do governo. Vírgulas intrometiam-se em todos os grupos, tornando os debates intermináveis. Chegavam pontos de todas as direções. Tomados de indignação, cada vez mais alterados, amontoavam-se na esquina, onde, a certa altura, começaram a protestar com palavras de ordem. A aglomeração atingiu tal proporção que se formou uma pilha negra e imensa cujo ponto culminante era o mais inflamado.
Colchetes e parênteses começaram a circundar aquela montanha convulsa numa procissão lenta e contínua. Dois pontos e aspas acusavam: “Atropelado”. Reticências se posicionavam, falando fundo à imaginação: “Desaparecido…”
Palavra-ônibus voltou da cozinha trazendo um copo d’água para Caminhão. “A ironia é que eu estava em ponto morto quando o atropelei”, ele disse. “Ele não está morto, querido, te acalma.” O ponto não tinha um só arranhão, mas continuava desacordado. “Quem sabe chamamos um médico?”, ela propôs. “Não, nem penses nisso.” Serei denunciado e preso. Tu sabes o quanto preciso trabalhar. Se Deus quiser, o pobre ponto vai despertar e me perdoar. Não tive intenção de machucá-lo. Os pontos são tão pequenos. E, pra complicar, às vezes tem-se a impressão de que não vão surgir.
Na parte moderna da cidade parecem ter sido abolidos por lei, de tanto que não são vistos. Isso confunde quem anda muito de um lado para o outro. Mas nem foi esse o meu caso. Eu simplesmente tinha pressa. Não tenho desculpa. Só não sei onde estava com a cabeça quando decidi fugir. Que grave erro. Agora não posso voltar atrás. “Vamos esperar um pouco, então.” Afinal, ele parece tão bem, respira tranquilamente.
Vai lá pra sala, descansa; liga a televisão, tenta pensar em outra coisa. Esse simpático ponto vai despertar sem demora. É tão jovem. Vou cuidar dele como se fosse um filho. “Meu filho… ”, disse a mulher. O quarto de hóspedes estava imerso numa penumbra acolhedora. Fora preparado originalmente para o primeiro filho do casal, até eles descobrirem que Palavra-ônibus não podia engravidar. Caminhão percebeu que a mulher se deixava conduzir por esse pensamento triste, mas não tentou detê-la. Saiu do quarto, foi para a sala e ligou a televisão, como ela havia sugerido.
Grego e Latino desceram do automóvel que mantinham em sociedade. Não podiam acreditar no que estavam vendo. “Passa o monóculo”, pediu Grego. “Multiforme multidão, aurifulgente caos!”, dizia Latino para si mesmo, em êxtase, o monóculo vibrando no olho esquerdo. Grego e Latino eram dois radicais perigosos. Pertenciam aos Compostos Eruditos, grupo terrorista que atuava na clandestinidade sem nunca assumir seus atentados nem deixar pistas, e que tinha por objetivo inocular na sociedade, por meio da educação e da disciplina, uma cepa dos ideais clássicos desenvolvidos por eles com o propósito de livrar os cidadãos, ou a “prole tarada”, como preferiam dizer, de barbarismos e outros ismos que a infectavam. A “prole tarada”, a rigor, era a nação inteira, vista pelos Compostos Eruditos como vítima de um coloquialismo vulgar e degradante. Se dependesse desses sediciosos, um dia o latim clássico não só estaria de volta às igrejas como seria língua franca de quitandas e bordéis; o grego seria moeda corrente em conversas nas altas esferas intelectuais e também nos xingamentos dos campos de futebol. Para chegar lá, defendiam a implantação de um Estado transitório em que o respeito a uma norma-padrão seria absoluto. Os líderes absolutistas seriam eles, obviamente, que se preparavam para serem “disciplinadores iluminados”.
Grego e Latino planejavam havia anos desencadear uma desordem de grandes proporções, que degenerasse em profunda instabilidade social e criasse as condições necessárias para a ascensão ao poder de seu líder máximo, Homúnculo, o Grande. Pois agora a desordem que esperavam estava à sua frente, genuinamente popular, como jamais fora em seus melhores sonhos. Abandonaram o automóvel ali, entre tantos outros, e se misturaram aos manifestantes. “Amigos telespectadores, estamos ao vivo, transmitindo diretamente do local onde tiveram início as manifestações que, neste momento, paralisam grande parte do centro de Ponto Alegre, capital do nosso querido e, até há pouco, pacato reino de Ponto Alegre”, falava Vocativo, conhecido repórter, ao microfone da mais importante rede de televisão do país. Ele tentava, sem sucesso, aproximar-se do local exato do acidente. “Entrevista o sujeito de monóculo que parou ao teu lado”, disse o ponto eletrônico no ouvido dele. Vocativo continuou: “Tudo começou com o atropelamento de um ponto por uma palavra-caminhão não identificada. A vítima, no entanto, está desaparecida. Vamos ouvir um cidadão. Senhor, é testemunha do que aconteceu?” “Não, mas dizem que a vítima é um ponto cego que costuma pedir esmolas nesta esquina”, mentiu Grego, sem titubear, explorando sua voz de barítono, o olho direito brilhando atrás do monóculo que compartilhava com Latino.
O telefone do Agente da Passiva tocou. A Passiva era a polícia secreta do Rei. O povo a apelidara assim e o apelido pegara, pois era sabido por todos que o Rei não tinha voz ativa nem mesmo em seus nobres aposentos. O Agente da Passiva fora um sujeito na ativa até pouco tempo antes. Após passar uma temporada de molho, entrara para a Passiva, onde começara como agente comum para, depois de uma ascensão vertiginosa, assumir a diretoria da discreta organização, que muitos julgavam uma lenda. “Alô”, disse ao aparelho. O caráter sigiloso de seu trabalho o obrigava, muitas vezes, a se comunicar de maneira cifrada. “Vem irrompendo a luz”, disse um de seus verbos auxiliares do outro lado da linha, recomendando ao chefe que ligasse a televisão. “A luz é muito apreciada por mim. O vidro da minha janela foi atravessado por seus raios”, respondeu o Agente da Passiva, dando a entender que já estava a par dos acontecimentos. Depois de assistir às manifestações por mais um tempo, colocou seus óculos escuros e ganhou a rua com ares de aposentado que sai para uma caminhada. Dirigiu-se ao gabinete do Regente, a quem se reportava agora, devido ao afastamento do Rei, que se declarara temporariamente impossibilitado de governar – o motivo alegado por Sua Majestade, e aceito pelo Parlamento, era de ordem emocional. Chegando lá, o Agente da Passiva evitou a entrada principal do prédio e encaminhou-se para uma pequena porta lateral, oculta por uma cerca viva. Anunciou-se com duas pancadas fortes e uma leve. “A ante…”, alguém disse por uma espécie de respiradouro no centro da porta. “Até após com contra de desde em entre para per perante por sem sob sobre trás”, completou o Agente da Passiva em voz baixa, aproximando o rosto da abertura. Senha confirmada, a porta foi aberta e ele entrou.
[ ... ]   [ in A Primavera da Pontuação de Vitor Ramil]

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Atitudes


“Mais do que na força das palavras, eu acredito no poder das atitudes. Na grandeza dos gestos...”    [Fernanda Gaona]





domingo, 7 de outubro de 2018

Depois da Leitura de um Poema

Depois da Leitura de um Poema
Castro Alves
(Em Sessão Literária)
(Impromptu)


Às vezes o pastor subindo aos Alpes
Lança aos abismos a canção tremente.
Responde em baixo - o precipício enorme!
Responde em cima - o firmamento ingente!

Poeta! a voz do pegureiro errante
Em ti vibrando... se alteou!... cresceu!
Tua alma é funda - como é fundo o pego!
Teu gênio é alto - como é alto o céu!


sábado, 6 de outubro de 2018

Cultura

"A cultura é a única riqueza que os tiranos não podem confiscar. Só a morte pode obscurecer a lâmpada da sabedoria que trazes dentro de ti. A verdadeira riqueza de uma nação não se se baseia no seu ouro ou prata, mas em sua cultura e civilização, e na integridade moral de seus filhos." [in "A voz do Mestre" de Khalil Gibran]



sexta-feira, 5 de outubro de 2018