domingo, 31 de janeiro de 2021

Haicais Guilherminos

Haicais Guilherminos
Maria Thereza Cavalheiro (1929 - 2018)

Como dona dela
a lagartixa se fixa
na minha janela.

Às vezes se esconde,
uma cobra se desdobra,
se enrosca na fronde.

Formiga: incessante
trabalha, não  se atrapalha
em nenhum instante.

Um verde pelo ar.
Maritaca se destaca
na tarde solar.

Descanso um momento.
Bica-me o pato o sapato.
Quanto atrevimento!

 

sábado, 30 de janeiro de 2021

Mentindo

[ ... ]
... "- Por estarem tentando. Olhe em volta. O que você vê? Pessoas de fantasias, chifres, joias falsas, adornando-se com pequenas camadas de ilusão. Elas ficam mais eretas, encolhem a barriga, dizem coisas que não acreditam, se entregam à adulação. Cometem mil pequenos atos de fingimento, mentindo para si mesmas, bebendo até o ponto do delírio para facilitar. Esta é a noite de pactos, entre os videntes e os vistos, uma noite em que as pessoas aceitam falsas barganhas voluntariamente, esperando enganar e serem enganadas, pelo prazer de se sentirem corajosas, sensuais, belas ou simplesmente desejadas, não importa o quão fugazmente."
[ ... ]              [in Nona Casa de Leigh Bardugo]


sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

domingo, 24 de janeiro de 2021

Kyries Noturnos

Kyries Noturnos
Rosani Abou Adal

Solidão noite adentro,
nada acalenta o sono.
A embriaguês da alma,
alquimia do corpo.
Segredos não desvendáveis
em silêncio e pausa.
Essências florais
entre os dedos
despertam o corpo dos medos
e das fugas solitárias,
acordam a multidão púrpura
dormente no deserto côncavo.
Êxtases em si bemol
na escala de dó maior
fragmentam compassos,
alforam nêumas,
desvendam kyries.
Os sons da floresta vibram
seivas lubrificantes,
codificam o toque de Narciso,
as múltiplas formas de existir,
de ser o que nunca foi.
Descobrir segredos e mistérios
ocultos na selva.
Infinitos tons da Rosa Cairo
acolhem o corpo em síncope.
Orgasmos  em transe,
Morfeu acolhe Narciso.
Sonhos despertam
no amanhecer.



sábado, 23 de janeiro de 2021

Caixas

 
[ .... ]
... "Uma longa mesa fora montada não muito longe do balcão, a uma distância confortável das caixas onde objetos das coleções da biblioteca ficavam girando em exibição, e onde a Bíblia de Gutenberg estava guardada em seu próprio cubo de vidro, com iluminação especial. Uma única página dela era virada todos os dias."
[ ... ]                    [in Nona Casa de Leigh Bardugo] 



sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Constituição

 

"O poder de uma Constituição vem do respeito que o povo tem por ela. Se o povo não a respeita, são apenas palavras num papel."  [Sefi Atta in Tudo de bom vai acontecer]


domingo, 17 de janeiro de 2021

Ninguém está livre

Ninguém está livre
Alcides Buss

Se o corpo com que andas
te deixar na mão
- já pensou!

O sapato no pé errado
e não te dás por isto

Um fio de cabelo 
te pode levar à prisão

Se ganhasses na loteria
Se acordasses num dia 
distante da infância
Se fosses capaz de escrever
o mais lindo poema de amor

Se pudesses teus erros desfazer
Se sonhar te servisse de escudo
- já pensou!



sábado, 16 de janeiro de 2021

Listras da zebra

 
[ ... ]
... "Simi suspirou.
- Você não pode se preocupar com isso - falou. - Você conhece o ditado. "Uma zebra leva suas listras para onde quer que vá." Uma pessoa jamais deixa, de fato, sua casa para trás. São as listras da zebra... Ela vai seguir você como se fosse a sua própria pele."
[ ... ]
                      [in O Sol mais Brilhante de Adrienne Benson] 



sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Hoje de manhã

 

"Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas vezes desde então." [Lewis Carroll]


domingo, 10 de janeiro de 2021

Esperança

Esperança
Débora Novaes de Castro


Salve, salve!

Salve, salve,
Esperança:
pendão auriverde
dos nossos sonhos,
a turmalina...
a esmeralda...
a abrilhantar 
as planuras 
do infinito...

Esperança
benfazeja,
"pomba bíblica
do ramo verde
à Arca de Noé",
pérola nacarada
de um grão de areia
acolhido na rudeza
do cascalho...

Esperança:
expectativa,
fé, ideal, sonho
que a mente concebe,
a alma consente,
coração agasalha,
"per saecula
saeculorum".
Amém!


sábado, 9 de janeiro de 2021

Leitura

[ ... ]

... "Às vezes eu nos imaginava lendo um livro juntos, antes de finalmente nos beijarmos e fazer amor. Segundo meu pai, a maior felicidade da vida era casar com uma jovem com quem se passaria a juventude lendo livros, na apaixonada busca de um ideal comum. Eu o ouvia dizer isso a minha mãe, mas se referindo à felicidade de outra pessoa."

[ ... ]                                        [in A Mulher Ruiva de Orham Pamuk]




sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

domingo, 3 de janeiro de 2021

Construção

Construção 
Francisco Buarque de Hollanda

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e desgraça que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague


sábado, 2 de janeiro de 2021

Mundo

 [ ... ]
...“Eu te imploro para assumir essa tarefa, deixando de lado a tradicional rivalidade Brasil-Argentina, pela glória da literatura francesa. É um bom motivo para que te condecorem com a Legião de Honra. Eu vendo mais livros na Argentina que em todos os outros países hispânicos juntos. Preciso ir ao fim do mundo. Faz três anos que tenho um carro e ando pouco de avião. Preciso me mexer. Esta noite, por exemplo, eu me sinto velho, e é verdade que já não sou muito jovem. Talvez eu não tenha outra oportunidade de ir à América do Sul. Tenho de fazer isso com toda calma.”
[ ... ]

[in Um escritor no fim do mundo de Juremir Machado da Silva]



sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Ano Bom!

 Queridos, 

Leitores Amigos, Por favor, gostaria de contar com as suas curtidas nesse novo ano. 

Então! se cuidem...


Happy New Year!

¡Feliz Año Nuevo!

Su naujais metais!

Feliz Ano Novo!