domingo, 30 de dezembro de 2018

Ao meu amor

Arquivo CD  Express

Ao meu amor
Sheila Vargas

Ainda que todas
as palavras do mundo
eu reunisse em versos
e toda ternura
sobre tua vida eu derramasse
e em todos os abraços
uma parte de minha alma
eu te entregasse

e ainda que todas as juras de amor
eu repetisse em beijos

Ainda assim
haveria de morrer
sem ter tido tempo
de te dizer
O que meu coração  guardou.


sábado, 29 de dezembro de 2018

Política

Arquivo de 03.07.2016

"As formas políticas são vãs, sem os homens que as anima. É o vigor individual que faz as nações robustas. Mas o indivíduo não pode ter essa fibra, esse equilíbrio, essa energia, que compõem os fortes, senão pela consciência do seu destino moral, associada ao respeito desse destino nos seus semelhantes."

"É muito difícil para nós abordar este assunto, porque somos simples espectador do que se passa no cenário nacional, acompanhando as notícias e, algumas vezes, os debates políticos.
Entendemos, porém, que uma das particularidades da política é atingir e interessar a todos os indivíduos.
Não obstante, muitos sentem desapontamento com relação a ela, pelo fato de a analisarem por um prisma que não expressa a realidade.
A política é uma ciência que tem por finalidade propiciar um bom governo.
Embora sejamos leigos na matéria, propusemo-nos aceitar este desafio, isto é, dizer alguma coisa em torno da política, por considerá-la de fundamental importância. E o fazemos com isenção de ânimo e completa ausência de fatores externos e de ideias preconcebidas. Os entendidos do assunto que nos relevem, pois é provável que o nosso raciocínio seja falho.
Vamos tentar focalizá-la de maneira sintetizada, com imparcialidade e desejosos de acertar. Faltando-nos maiores recursos  para a exposição do tema, a falsa política da verdadeira, de modo a melhor ajuizar sobre a conduta dos homens que a ela se dedicam.
Cremos que não há encoberto que não seja descoberto. nem algo oculto que se não venha a saber com o decorrer  do tempo.
Partindo-se deste princípio, os nossos atos devem ser pautados pela honestidade, a fim de que não venhamos a suportar o reflexo de gestos menos felizes.
Os deturpadores da verdade, os mistificadores da justiça, os adversários da liberdade, os violadores do direito, sempre procuraram distorcer os fatos em proveito pessoal. Esta afirmativa é incontestável, tendo a própria história como testemunha.
A respeito da política, vejamos a definição do eminente Dr. Ruy Barbosa: <<A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. Constitui uma função ou um conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. É a higiene dos países moralmente sadios.>> 
Deduzimos, em face deste sábio pronunciamento, que a prática da política autêntica exige de seus profitentes elevar-se acima de todas as influências negativas que possam amortecer os bons sentimentos, consequentemente, deve ser exercida com brio e dignidade humana, sob pena de ser acusada de politicagem, que nada mais é do que o jogo da intriga, da inveja e da incapacidade.
<Política e politicagem não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se  repulsam mutuamente.>   [in "Fatos Reais" de Milton Luz]



sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

domingo, 23 de dezembro de 2018

Versos do Natal

Arquivo Pessoal

Versos do Natal
Manuel Bandeira


Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!
Mas se fosses mágico,
Penetrarias até o fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.



sábado, 22 de dezembro de 2018

Papai Noel

Arquivo Pessoal


- E quanto o senhor paga?
- Quinze cruzeiros por dia.
Fez as contas, antes de aceitar. Trabalharia dez dias, portanto ...
- E  a roupa?
- Roupa é por minha conta. Aceita?
Aceitou. Começaria amanhã.
Contou à mulher que conseguira uma coisa até arranjar algo melhor. Explicou do que se tratava.
- Vou me vestir de Papai Noel e ficar na calçada fazendo o povo entrar na loja.  Propagandista, como o homem lá disse.
A mulher achou ridículo, mas não falou o que achava. Até lhe deu força.
- Qualquer trabalho honesto é bacana.
A roupa tinha sido usada, no ano passado, por um homem mais gordo. Apertou o cinto um furo ainda além do necessário para não a sentir sobrando no corpo.
- Vamos entrando, meus amigos. Aqui em "Habib & Irmãos", tudo por um preço de pai para filho ...
Avermelhava-se a cada grito que dava. A barba de algodão, o bigode malfeito incomodavam-no. Seguidamente procurava dar um jeito melhor na barba.
- Tudo em remarcação, tudo abaixo do custo! ...
As mães esticavam-lhe os filhos para que ele lhes desse um beijo, um conselho.
- Olha Papai Noel, filho. Fala com Papai Noel.
Os meninos, mais encabulados do que ele, emudeciam. Apenas corriam os olhos pelo rosto, sua roupa, seus sapatos.
- Papai Noel sem bota? - gritavam os garotos mais espertos.
Queria esconder os pés, calçados nos seus próprios sapatos. Sugeriu que lhe comprassem umas botas.
- Assim está muito bom.
O dono da loja não queria despesas maiores.
- Entrem ... entrem ... Eu compro aqui.
Se Papai Noel comprava ali, ali deveria ser tudo mais em conta - pensavam assim os donos da loja. Um homem, vestido de Carlitos, fazia a propaganda da casa em frente, rodando a bengala sem graça, caminhando sem jeito com pés aberto.
- Olha Papai Noel ...
Um pretinho lhe beijou o rosto. Achou desagradável o contato da boca no algodão da barba. Cuspiu os fiapos que ficaram.
Assim foi durante os dez dias do trato. Temia ser reconhecido por um amigo. A cada ia fazia a barba maior e aumentava o bigode, querendo colocar uma parede no rosto. Tornar-se irreconhecível. Os sapatos, pelo menos, estavam, no final, engraxados. O cetim da roupa, amassado e rasgado em muitos pontos, já desbotara pelas inúmeras lavagens e pelo tempo em que ficava guardado, aguardando o Papai Noel do próximo ano. O cinto acinzentava-se na altura da fivela pelas tantas vezes em que fora aberto e fechado,
- Vamos lá, minha gente ... Em "Habib & Irmãos" é tudo de graça.
Balançava o sino que lhe puseram na mão a contragosto.
- Badala direito - advertiam os Habibs.
Chamando a atenção, agitava o sino com furor. Havia os que lhe viravam as costas e os que riam dele, achando-o tão imbecil quanto ele próprio se achava.
- Tem gente que se presta a cada papel ...
- Entrem, entrem ... "Habib & Irmãos" é a loja onde eu compro.
- Onde é o circo, ó palhaço?
- Tudo remarcado ...
- Tão grande e tão bob ... coitado.
- ... abaixo do custo.
- Me dá um presente, ó Papai Noel de araque! ...
Quinze cruzeiros por dia, para gritar o nome da loja, badalar o sino, fazer-se ridículo. Avistou um conhecido adiante, na calçada, do outro lado. Entrou na loja.
- Como é?
- Vou urinar, Seu Habib.
- Papai Noel não urina.
O patrão o fez voltar à calçada. Ficou de costas para o amigo que passou sem vê-lo, felizmente. Mas  era o último dia. Largaria às oito. Por ser véspera de Natal, a loja fechava mais tarde, na esperança dos derradeiros fregueses retardatários. Depois das sete já não havia movimento. Sugeriu parar.
- Por quê? Só fechamos às oito. Grita e badala o sino. Vamos lá.
Sua voz e seu sino foram, por algum tempo, os únicos barulhos da rua.
- Em  "Habib & Irmãos" ... - recomeçava já rouco.
Largou às oito. Devolveu a roupa e recebeu o dinheiro. Enfiou no bolso os cento e cinquenta cruzeiros mais sofridos que ganhara na vida e caminhou para a Central, em busca do trem que o levaria a Realengo.
Chegou em casa às dez e meia. A mulher o esperava no portão. Beijou-o na testa e ele lhe entregou, disfarçado, o pacote do trenzinho que seria colocado de noite ao lado da cama do filho.
- Tudo bom?
- Tudo bom.
O filho já fora dormir. Deitara mais cedo por medo de Papai Noel esquecer dele.
Acordou às sete com o barulho do trem de plástico correndo no quarto ao lado. foi ver o filho. Parou na porta, feliz, vendo o menino recolocar o trem que insistia em sair dos trilhos.
- Olha, pai!
- Que bonito!
- Papai Noel que me deu ...
- Foi, filho? - perguntou, fingindo surpresa.
- Olha só.
O filho mostrou a beleza que era o trem correndo.
- Lindo.
- Papai ...
A mulher já estava aos seu lado quando o menino falou.
- Uns garotos na rua me disseram que Papai Noel não existe.
Foi a mulher quem respondeu:
- Existe sim, filho ...
Ao responder, a mulher apertava com força o braço do homem. Foi-lhe agradável notar que a mulher falara com absoluta convicção.
[in páginas 28-30,  texto de Chico Anisio; Capítulo 2 de "Aulas de Comunicação em Língua Portuguesa"  de Luiz Antônio, 1984]



sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

É Natal

Arquivo Pessoal




“É Natal...Na manjedoura o nascimento do Cristo-Menino... nos corações, a esperança de novos tempos...Época de renovar... os sentimentos, os corações, as almas...”  [Adriana de Souza Cintra]



domingo, 16 de dezembro de 2018

A Estrela

Arquivo via Internet

A Estrela
Manuel Bandeira



Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha noite vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que de sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvia-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar esperança
Mais triste ao fim do meu dia.



sábado, 15 de dezembro de 2018

Alma de uma pátria

Arquivo Pessoal

"Todos temos a obrigação de saber bem o nosso idioma. Ninguém pode descurar de estudá-lo sem incorrer em repreensível impatriotismo. Sim, o idioma é a alma de uma pátria. Se amamos a nossa pátria, devemos zelar pela língua que aprendemos a falar desde nossos primeiros  passos." [in Como Escrever Bem de  Osmar Barbosa]

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Permanece

Arquivo via Internet



"O que fazemos por nós mesmos morre conosco. O que fazemos pelos outros permanece e é imortal."  [Albert Pine]





domingo, 9 de dezembro de 2018

O Escândalo da Rosa

Arquivo Pessoal

O Escândalo da Rosa
Vinicius de Moraes

Oh rosa que raivosa
Assim carmesim
Quem te fez zelosa
O carne tão ruim?

Que anjo ou que pássaro
Roubou tua cor
Que ventos passaram
Sobre o teu pudor

Coisa milagrosa
De rosa de mate
De bom para mim

Rosa glamurosa?
Oh rosa que escarlate:
No mesmo jardim!


sábado, 8 de dezembro de 2018

Reflexo

Arquivo Pessoal


"Entrei no quarto de Angustias pela última vez. Fazia calor e a janela estava aberta; o familiar reflexo da luz se estendia sobre o piso em tristes torrentes amareladas." [in Nada de Carmen Laforet]



sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Gritos X Silêncio

Arquivo de 13/06/2015

"O que mais preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons."     [Martin Luther King]



domingo, 2 de dezembro de 2018

Nacos de Nuvem

Arquivo de 31.12.2015

Nacos de Nuvem
Maiakovski

No  céu flutuavam trapos
de nuvem - quatro farrapos

do primeiro ao terceiro - gente
o quarto - camelo errante.

A ele, levado pelo instinto,
no caminho junta-se um quinto.

Do seio azul do céu,
pé-ante-pé,
se desgarra um elefante.

Um sexto salta - parece.
Susto o grupo desaparece.

E em seu rastro
agora se cansa 
o sol - amarela girafa.



sábado, 1 de dezembro de 2018

Sagrado

Arquivo Pessoal


"Deus Sagrado, concede-me a sabedoria para harmonizar a aliança entre meu corpo e minha alma. Faze com que ambos se elevem juntos na minha devoção a Ti. Minha alma apreende  a Tua Luz - faze com que meu corpo também consiga discerni-la. Minha alma celebra Teus louvores - faze com que meu corpo entoe o mesmo canto." [in Se eu quiser falar com Deus de Rebbe Nachman]