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"– Deixa que atendo aqui – disse Poirot. Tenho certeza de que não é nada interessante. Mas, de qualquer maneira – encolheu os ombros –, servirá para passar o tempo. Quem sabe?
– Está bem, Sir – disse George, e saiu da sala. Poirot estendeu a mão e tirou o fone, fazendo cessar o tilintar da chamada.
– Hercule Poirot – disse com uma certa grandeza, para impressionar quem quer que estivesse na outra extremidade da linha.
– Ótimo – disse uma voz impaciente, uma voz feminina, um tanto débil pela ansiedade. – Tive receio de não encontrá-lo em casa, de que o senhor tivesse saído.
– Por que pensou isso? – perguntou Poirot.
– Porque não posso deixar de achar que, nos dias de hoje, as coisas acontecem para nos frustrar. A gente precisa de alguém com urgência, sabe que não pode esperar e se tem de esperar. Precisava urgentemente do senhor, com absoluta urgência.
– E quem é você? – perguntou Hercule Poirot. A voz, que era de uma mulher, pareceu surpresa.
– Não me reconhece? – perguntou incredulamente.
– Ah, sim – respondeu Hercule Poirot –, é minha amiga Ariadne.
– Ah, estou num estado horrível.
– Sim, sim, percebe-se. A senhora estava correndo? A senhora está sem fôlego, não é?
– Não estava correndo. É emoção. Posso ir aí imediatamente? Poirot deixou passar alguns segundos antes de responder. Sua amiga, a Sra. Oliver, parecia muito excitada. Qualquer que fosse seu problema, passaria muito tempo a despejar suas queixas, suas mágoas, frustrações, enfim, tudo que a estivesse afligindo. Uma vez ali nos aposentos de Poirot, poderia ser difícil induzi-la a se retirar, sem uma certa dose de impolidez. As coisas que excitavam a Sra. Oliver eram tantas e frequentemente tão inesperadas, que era preciso muita arte para acompanhá-la."
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in A Noite das Bruxas de Agatha Christie]