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Montagem com duas imagens da internet |
Oração aos mortos de 32
Guilherme de Almeida (1890 - 1969)
Esta é a trincheira que não se rendeu:
a que deu à terra o seu suor,
a que deu à terra a sua lágrima,
a que deu à terra o seu sangue!
Esta é a trincheira que não se rendeu:
pelo branco do vosso Ideal,
pelo negro do nosso luto,
pelo vermelho do vosso coração!
Esta é a trincheira que não se rendeu:
a que, alerta, nos vigia
a que, invicta, nos defende,
a que, eterna, nos glorifica!
Esta é a trincheira que não se rendeu:
a que não transigiu,
a que não esqueceu,
a que não perdoou!
Esta é a trincheira que não se rendeu:
a que está de pé sob nossos joelhos!
E, pois que estão de pé os mortos, de joelhos os vivos!
E, ajoelhados, a vós rogamos;
- Soldados Paulistas tombados em 32,
sem armas nos vossos ombros, velai por nós!
sem balas na cartucheira, velai por nós!;
sem pão em vosso bornal, velai por nós!;
sem água em vosso cantil, velai por nós!;
sem anéis de ouro nos dedos, velai por nós!;
sem divisas militares, velai por nós!;
sem mães rezando na igreja, velai por nós!;
sem lar feliz esperando, velai por nós!;
sem filhos para a vingança, velai por nós!;
sem mancha no pensamento, velai por nós!;
sem medo no coração, velai por nós!;
sem nada mais que uma vida, velai por nós!;
sem nada, senão São Paulo, velai por nós!...