domingo, 30 de dezembro de 2018

Ao meu amor

Arquivo CD  Express

Ao meu amor
Sheila Vargas

Ainda que todas
as palavras do mundo
eu reunisse em versos
e toda ternura
sobre tua vida eu derramasse
e em todos os abraços
uma parte de minha alma
eu te entregasse

e ainda que todas as juras de amor
eu repetisse em beijos

Ainda assim
haveria de morrer
sem ter tido tempo
de te dizer
O que meu coração  guardou.


sábado, 29 de dezembro de 2018

Política

Arquivo de 03.07.2016

"As formas políticas são vãs, sem os homens que as anima. É o vigor individual que faz as nações robustas. Mas o indivíduo não pode ter essa fibra, esse equilíbrio, essa energia, que compõem os fortes, senão pela consciência do seu destino moral, associada ao respeito desse destino nos seus semelhantes."

"É muito difícil para nós abordar este assunto, porque somos simples espectador do que se passa no cenário nacional, acompanhando as notícias e, algumas vezes, os debates políticos.
Entendemos, porém, que uma das particularidades da política é atingir e interessar a todos os indivíduos.
Não obstante, muitos sentem desapontamento com relação a ela, pelo fato de a analisarem por um prisma que não expressa a realidade.
A política é uma ciência que tem por finalidade propiciar um bom governo.
Embora sejamos leigos na matéria, propusemo-nos aceitar este desafio, isto é, dizer alguma coisa em torno da política, por considerá-la de fundamental importância. E o fazemos com isenção de ânimo e completa ausência de fatores externos e de ideias preconcebidas. Os entendidos do assunto que nos relevem, pois é provável que o nosso raciocínio seja falho.
Vamos tentar focalizá-la de maneira sintetizada, com imparcialidade e desejosos de acertar. Faltando-nos maiores recursos  para a exposição do tema, a falsa política da verdadeira, de modo a melhor ajuizar sobre a conduta dos homens que a ela se dedicam.
Cremos que não há encoberto que não seja descoberto. nem algo oculto que se não venha a saber com o decorrer  do tempo.
Partindo-se deste princípio, os nossos atos devem ser pautados pela honestidade, a fim de que não venhamos a suportar o reflexo de gestos menos felizes.
Os deturpadores da verdade, os mistificadores da justiça, os adversários da liberdade, os violadores do direito, sempre procuraram distorcer os fatos em proveito pessoal. Esta afirmativa é incontestável, tendo a própria história como testemunha.
A respeito da política, vejamos a definição do eminente Dr. Ruy Barbosa: <<A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. Constitui uma função ou um conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. É a higiene dos países moralmente sadios.>> 
Deduzimos, em face deste sábio pronunciamento, que a prática da política autêntica exige de seus profitentes elevar-se acima de todas as influências negativas que possam amortecer os bons sentimentos, consequentemente, deve ser exercida com brio e dignidade humana, sob pena de ser acusada de politicagem, que nada mais é do que o jogo da intriga, da inveja e da incapacidade.
<Política e politicagem não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se  repulsam mutuamente.>   [in "Fatos Reais" de Milton Luz]



sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

domingo, 23 de dezembro de 2018

Versos do Natal

Arquivo Pessoal

Versos do Natal
Manuel Bandeira


Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!
Mas se fosses mágico,
Penetrarias até o fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.



sábado, 22 de dezembro de 2018

Papai Noel

Arquivo Pessoal


- E quanto o senhor paga?
- Quinze cruzeiros por dia.
Fez as contas, antes de aceitar. Trabalharia dez dias, portanto ...
- E  a roupa?
- Roupa é por minha conta. Aceita?
Aceitou. Começaria amanhã.
Contou à mulher que conseguira uma coisa até arranjar algo melhor. Explicou do que se tratava.
- Vou me vestir de Papai Noel e ficar na calçada fazendo o povo entrar na loja.  Propagandista, como o homem lá disse.
A mulher achou ridículo, mas não falou o que achava. Até lhe deu força.
- Qualquer trabalho honesto é bacana.
A roupa tinha sido usada, no ano passado, por um homem mais gordo. Apertou o cinto um furo ainda além do necessário para não a sentir sobrando no corpo.
- Vamos entrando, meus amigos. Aqui em "Habib & Irmãos", tudo por um preço de pai para filho ...
Avermelhava-se a cada grito que dava. A barba de algodão, o bigode malfeito incomodavam-no. Seguidamente procurava dar um jeito melhor na barba.
- Tudo em remarcação, tudo abaixo do custo! ...
As mães esticavam-lhe os filhos para que ele lhes desse um beijo, um conselho.
- Olha Papai Noel, filho. Fala com Papai Noel.
Os meninos, mais encabulados do que ele, emudeciam. Apenas corriam os olhos pelo rosto, sua roupa, seus sapatos.
- Papai Noel sem bota? - gritavam os garotos mais espertos.
Queria esconder os pés, calçados nos seus próprios sapatos. Sugeriu que lhe comprassem umas botas.
- Assim está muito bom.
O dono da loja não queria despesas maiores.
- Entrem ... entrem ... Eu compro aqui.
Se Papai Noel comprava ali, ali deveria ser tudo mais em conta - pensavam assim os donos da loja. Um homem, vestido de Carlitos, fazia a propaganda da casa em frente, rodando a bengala sem graça, caminhando sem jeito com pés aberto.
- Olha Papai Noel ...
Um pretinho lhe beijou o rosto. Achou desagradável o contato da boca no algodão da barba. Cuspiu os fiapos que ficaram.
Assim foi durante os dez dias do trato. Temia ser reconhecido por um amigo. A cada ia fazia a barba maior e aumentava o bigode, querendo colocar uma parede no rosto. Tornar-se irreconhecível. Os sapatos, pelo menos, estavam, no final, engraxados. O cetim da roupa, amassado e rasgado em muitos pontos, já desbotara pelas inúmeras lavagens e pelo tempo em que ficava guardado, aguardando o Papai Noel do próximo ano. O cinto acinzentava-se na altura da fivela pelas tantas vezes em que fora aberto e fechado,
- Vamos lá, minha gente ... Em "Habib & Irmãos" é tudo de graça.
Balançava o sino que lhe puseram na mão a contragosto.
- Badala direito - advertiam os Habibs.
Chamando a atenção, agitava o sino com furor. Havia os que lhe viravam as costas e os que riam dele, achando-o tão imbecil quanto ele próprio se achava.
- Tem gente que se presta a cada papel ...
- Entrem, entrem ... "Habib & Irmãos" é a loja onde eu compro.
- Onde é o circo, ó palhaço?
- Tudo remarcado ...
- Tão grande e tão bob ... coitado.
- ... abaixo do custo.
- Me dá um presente, ó Papai Noel de araque! ...
Quinze cruzeiros por dia, para gritar o nome da loja, badalar o sino, fazer-se ridículo. Avistou um conhecido adiante, na calçada, do outro lado. Entrou na loja.
- Como é?
- Vou urinar, Seu Habib.
- Papai Noel não urina.
O patrão o fez voltar à calçada. Ficou de costas para o amigo que passou sem vê-lo, felizmente. Mas  era o último dia. Largaria às oito. Por ser véspera de Natal, a loja fechava mais tarde, na esperança dos derradeiros fregueses retardatários. Depois das sete já não havia movimento. Sugeriu parar.
- Por quê? Só fechamos às oito. Grita e badala o sino. Vamos lá.
Sua voz e seu sino foram, por algum tempo, os únicos barulhos da rua.
- Em  "Habib & Irmãos" ... - recomeçava já rouco.
Largou às oito. Devolveu a roupa e recebeu o dinheiro. Enfiou no bolso os cento e cinquenta cruzeiros mais sofridos que ganhara na vida e caminhou para a Central, em busca do trem que o levaria a Realengo.
Chegou em casa às dez e meia. A mulher o esperava no portão. Beijou-o na testa e ele lhe entregou, disfarçado, o pacote do trenzinho que seria colocado de noite ao lado da cama do filho.
- Tudo bom?
- Tudo bom.
O filho já fora dormir. Deitara mais cedo por medo de Papai Noel esquecer dele.
Acordou às sete com o barulho do trem de plástico correndo no quarto ao lado. foi ver o filho. Parou na porta, feliz, vendo o menino recolocar o trem que insistia em sair dos trilhos.
- Olha, pai!
- Que bonito!
- Papai Noel que me deu ...
- Foi, filho? - perguntou, fingindo surpresa.
- Olha só.
O filho mostrou a beleza que era o trem correndo.
- Lindo.
- Papai ...
A mulher já estava aos seu lado quando o menino falou.
- Uns garotos na rua me disseram que Papai Noel não existe.
Foi a mulher quem respondeu:
- Existe sim, filho ...
Ao responder, a mulher apertava com força o braço do homem. Foi-lhe agradável notar que a mulher falara com absoluta convicção.
[in páginas 28-30,  texto de Chico Anisio; Capítulo 2 de "Aulas de Comunicação em Língua Portuguesa"  de Luiz Antônio, 1984]



sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

É Natal

Arquivo Pessoal




“É Natal...Na manjedoura o nascimento do Cristo-Menino... nos corações, a esperança de novos tempos...Época de renovar... os sentimentos, os corações, as almas...”  [Adriana de Souza Cintra]



domingo, 16 de dezembro de 2018

A Estrela

Arquivo via Internet

A Estrela
Manuel Bandeira



Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha noite vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que de sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvia-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar esperança
Mais triste ao fim do meu dia.



sábado, 15 de dezembro de 2018

Alma de uma pátria

Arquivo Pessoal

"Todos temos a obrigação de saber bem o nosso idioma. Ninguém pode descurar de estudá-lo sem incorrer em repreensível impatriotismo. Sim, o idioma é a alma de uma pátria. Se amamos a nossa pátria, devemos zelar pela língua que aprendemos a falar desde nossos primeiros  passos." [in Como Escrever Bem de  Osmar Barbosa]

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Permanece

Arquivo via Internet



"O que fazemos por nós mesmos morre conosco. O que fazemos pelos outros permanece e é imortal."  [Albert Pine]





domingo, 9 de dezembro de 2018

O Escândalo da Rosa

Arquivo Pessoal

O Escândalo da Rosa
Vinicius de Moraes

Oh rosa que raivosa
Assim carmesim
Quem te fez zelosa
O carne tão ruim?

Que anjo ou que pássaro
Roubou tua cor
Que ventos passaram
Sobre o teu pudor

Coisa milagrosa
De rosa de mate
De bom para mim

Rosa glamurosa?
Oh rosa que escarlate:
No mesmo jardim!


sábado, 8 de dezembro de 2018

Reflexo

Arquivo Pessoal


"Entrei no quarto de Angustias pela última vez. Fazia calor e a janela estava aberta; o familiar reflexo da luz se estendia sobre o piso em tristes torrentes amareladas." [in Nada de Carmen Laforet]



sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Gritos X Silêncio

Arquivo de 13/06/2015

"O que mais preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons."     [Martin Luther King]



domingo, 2 de dezembro de 2018

Nacos de Nuvem

Arquivo de 31.12.2015

Nacos de Nuvem
Maiakovski

No  céu flutuavam trapos
de nuvem - quatro farrapos

do primeiro ao terceiro - gente
o quarto - camelo errante.

A ele, levado pelo instinto,
no caminho junta-se um quinto.

Do seio azul do céu,
pé-ante-pé,
se desgarra um elefante.

Um sexto salta - parece.
Susto o grupo desaparece.

E em seu rastro
agora se cansa 
o sol - amarela girafa.



sábado, 1 de dezembro de 2018

Sagrado

Arquivo Pessoal


"Deus Sagrado, concede-me a sabedoria para harmonizar a aliança entre meu corpo e minha alma. Faze com que ambos se elevem juntos na minha devoção a Ti. Minha alma apreende  a Tua Luz - faze com que meu corpo também consiga discerni-la. Minha alma celebra Teus louvores - faze com que meu corpo entoe o mesmo canto." [in Se eu quiser falar com Deus de Rebbe Nachman]



sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Terra

Arquivo de Revista antiga


"Para que doravante a família seja o pai, pelo menos o Universo, a mãe, pelo menos a Terra." [Maiokovski]



domingo, 25 de novembro de 2018

Poema para encorajar hélices

Arquivo de 01/02/2011

Poema para encorajar hélices
Bruna Beber

começam nos olhos
os passos inseguros
da criança

que recebe uma travessa
de vidro para transportar 
até a mesa posta pro almoço

ela caminha devagar, passo a passo
em suas mãos pesa o compromisso,
e, frágil, o mundo inteiro.



sábado, 24 de novembro de 2018

Sonhos

Imagem da Internet

"Não teorize sobre o amor
deixe isso para nós, 
pobres escritores que vemos a vida
como criança de nariz encostado na vitrine,
cheia de brinquedos dos nossos sonhos."        [de Arthur da Távola]



sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Viver

Arquivo da Internet

"Viver é um livro de esquecimento. Eu só quero lembrar de você até perder a memória." [Ana Carolina]



domingo, 18 de novembro de 2018

A viagem

Imagem da Internet

A viagem
Ana Martins Marques


Que coisas devo levar
nesta viagem em que partes?
As cartas de navegação só servem
a quem fica.
Com que mapas desvendar
um continente
que falta?
Estrangeira do teu corpo
tão comum
quantas línguas aprender
para calar-me?
Também quem fica
procura
um oriente.
Também
a quem fica
cabe uma paisagem nova
e a travessia insone do desconhecido
e a alegria difícil da descoberta.
O que levas do que fica,
o que, do que levas, retiro?


sábado, 17 de novembro de 2018

Pense... E inspire-se!

Arquivo Pessoal

"Reflita sobre o passado, viva o presente e sonhe com um futuro melhor."

"Não queira mostrar a cor, a beleza e o perfume da rosa, sem lembrar que há espinhos."

"Um segredo é saber somar qualidades e tolerar falhas e limitações."

"As mais belas  palavras de amor são ditas no silêncio do olhar."

"As tentações do mundo atual são atraentes, onipresentes e às vezes vencedoras."

"Que a Igreja seja um porto seguro para quem está à deriva no mar da vida."

"Errar é humano... Divino é arrepender-se, pedir perdão e mudar a conduta."

"Na comunidade há grandes virtudes e muitas qualidades... sem esquecer os pequenos defeitos que sobrevivem e são de difícil extirpação."

"Diminuindo nossas palavras, entendemos o silêncio de Deus."

"Somos bem mais do que nossos defeitos, fraquezas e preconceitos."  [in página 6, Jornal São Judas, novembro 2018, por Pe. Aloísio Knob]


  

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Deus

Arquivo Pessoal, revista antiga

"Não importa saber se a gente acredita em Deus, o importante é saber se Deus acredita na gente..." [Mário Quintana]



domingo, 11 de novembro de 2018

Dez chamamentos ao amigo

Arquivo CD Express

Dez chamamentos ao amigo
Hilda Hilst

Se te pareço
noturna e imperfeita
Olha-me de novo
Porque esta noite
Olhe-me a mim,
como se tu me olhasses

E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas,
nem tocar a margem

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra...

Olha-me de novo.
Com menos altivez.
E mais atento.




sábado, 10 de novembro de 2018

Tertúlia

Arquivo CD Express

" - Alfredo, meu bom Alfredo! O que passou pela sua cabeça, pelo amor de Deus? Você está mandando para o diabo a nossa bela tertúlia!" [in A Promessa / A Pane de Friedrich Dürrenmatt]



sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Meu jardim

Arquivo Pessoal


"Amo a música. Acredito na melhora do planeta. Confio em que nem tudo está perdido. Creio na bondade do ser humano. E percebo que a loucura é fundamental. Agora só me faltam carneiros e cabras pastando no meu jardim; viver é ótimo." [Elis Regina]


domingo, 4 de novembro de 2018

Minhas Mãos

Fotografia de 03/08/2014

Minhas mãos
Terezinha Malaquias

Obrigada Senhor por minhas mãos
Mãos que fazem carinho
Que tocam uma canção
E tiram espinhos

Minhas mãos queridas
Que juntas e unidas
Fazem nascer outras vidas
E reencontrar vidas perdidas

Mãos que trabalham
Mãos que abençoam
Mãos que abraçam

Mãos que eu quero bem
E as amo também 
Porque vocês existem para o bem.



sábado, 3 de novembro de 2018

Brisa do mar

Arquivo Pessoal

    "Ninguém na praia, só a força mineral das falésias e o frescor da mata. Até os pássaros parecem dormir. O mar alterna a força de Netuno, nas ondas, com a doçura de Iemanjá, brotando da espuma. Pontilhada de gotas de chuva, a areia áspera acorda os pés, que logo mergulham na umidade mole da argila.
Lentamente, o sol se arranca do horizonte. Mesclado à chuva que breve se esvai e fecunda um arco-íris. Pinceladas roxas tingem os vastos paredões de vermelhos. Na ponta da praia, a cor se interrompe, e a muralha fica puramente branca."         [in página 72 de 'Bons Fluídos' de dezembro de 2000]



sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Lei

Arquivo CD Express


"Quem desrespeita uma lei má está autorizando os outros a desrespeitarem as boas." [ Denis Diderot]



domingo, 28 de outubro de 2018

O que...

O Que
Terezinha Malaquias

Vazio, solidão
Vácuo, interrogação
Desespero
Por não saber o que quero
Não saber quem sou
Por que sou
Se é que sou algo
Ou talvez alguém
Eu não sei quem sou
Nem mesmo sei se sou
Mas sei que quero
Quero ser algo ou alguém
Quero encontrar o  meu eu
O meu eu gente, pessoa, mulher
Quero encontrar uma razão
De ser vida
Eu quero não sei bem o quê
Mas quero ser
Resta-me saber o quê.


sábado, 27 de outubro de 2018

Homem precipitado

"Viste um homem precipitado no falar? / Mas se devem dele esperar loucuras do que a emenda. / Aquele que cria delicadamente o seu criado desde a infância, / depois experimentá-lo-á contumaz. / O homem colérico excita rixas; / e o que facilmente se  indigna será mais propenso a pecar. / A humilhação segue o soberbo; / porém o humilde de espírito será glorificado. / Aquele que se associa com o ladrão, aborrece a sua própria alma; / ouve o juramento, e nada o denuncia. / Aquele que teme o homem, depressa cairá; / o que espera no Senhor será levantado. / São muitos os que buscam a verdadeira sentença de cada um. / Os justos abominam o homem ímpio, / e os ímpios abominam aqueles que estão no caminho reto. O filho que guarda a palavra (de Deus) será isento da perdição."        [Prov 29,20-27]



sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Gentileza

“A gentileza é a essência do ser humano. Quem não é suficientemente gentil não é suficientemente humano.” [ Joseph Joubert]




domingo, 21 de outubro de 2018

Corpo


Corpo
Terezinha Malaquias

Sinto o teu corpo
Quente
Macio
Envolvente
Sobre o meu corpo
Corpo a corpo
Pele a pele
Fazendo uma mistura total
De repente
Não são mais corpos
E sim corpo
Porque os dois corpos
Se uniram
Numa integração tão grande
E profunda
Que se tornou um só
Sinto você meu amor
Não junto de mim
Mas dentro de mim
Você que vai entrando 
Pelas minhas entranhas
Invadindo todo o meu ser
Num prazer total 
Comunhal
E eternal.



sábado, 20 de outubro de 2018

Um Exemplo




Um exemplo...

É gostoso ler, nos jornais e revistas, aquelas pequenas notas que não chamam atenção de ninguém, mas são essas, pequenas notas, as possuidoras de algumas preciosidades.
Transcrevo uma nota que foi publicada, no domingo, 27 de maio de 2012, página 19, do Diário de São Paulo, na coluna “Minuto de Silêncio”.


Leocádia Cintra de Campos (1907-2012)
Atraída pelos livros, quando já tinha lido todos os que estavam próximos, Leocádia recorria para as bulas de remédios, atitude adotada para não perder o hábito da leitura. Os muitos livros que acumulou com o tempo ela doou  para uma biblioteca do bairro onde morava. Outros foram dados de presente para os parentes. Perfeccionista, fazia os tricôs em casa. E não gostava de cozinhar. Filha de um farmacêutico que possuía um negócio na Rua Augusta, na região central de São Paulo, e muitos terrenos na região da Zona Leste, sua família era muito conhecida. Leocádia, que era viúva havia mais de 20 anos, faleceu com 105 anos. Deixa um filho.







sexta-feira, 19 de outubro de 2018

sexta


“... São tempos difíceis, mas o que eu peço a você é, não deixe de ter esperança. Não deixe de fazer o bem, mesmo quando não há retorno. Não deixe ter fé no amor, sobre tudo, no amor.”   [Laureane Antunes]



domingo, 14 de outubro de 2018

Mosaico



Mosaico
Paulo HenriquesBritto



Os dias a amontoar-se
como se rumo a um sentido,
algo que se assemelhasse
a uma meta, ou um destino,


mas formando (sem sabê-lo,
claro — o que sabem os dias?)
uma estrutura em relevo,
espécie de marchetaria,

 com padrão indecifrável
(por não seguir um projeto),
mas assim mesmo um resguardo,
um remédio contra o medo


de nada haver — nem padrão,
nem projeto, nem destino —
no mundo, nada senão
o amontoar-se dos dias.




sábado, 13 de outubro de 2018

Ponto

[ ... ]
Caminhão costurou e descosturou frases obscuras e sem fundamento que discorriam do centro em direção à periferia. Palavra-ônibus, sua mulher, estranhou ao vê-lo chegar em casa. Ele, que costumava voltar do trabalho apenas para o almoço ou no fim do dia, seguido sempre de uma exclamação, aparecia desta vez no meio da manhã e com um desanimado ponto final no para-choque dianteiro. “Caminhão”, ela perguntou, “aconteceu alguma coisa?” “Algo horrível: atropelei um ponto”, ele contou, nervoso. “Será este aqui?”, perguntou ela, mostrando o para-choque. Ele correu para ver. “Pensei que o havia esmagado ou atirado longe. Parece estar vivo.” Caminhão carregou o ponto com todo o cuidado e deitou-o na cama do quarto de hóspedes. Superlativo, o cachorro, pressentindo alteração na rotina da casa, começou a latir no pátio. Caminhão pediu à mulher que o fizesse parar: “Ele está chamando atenção. Ninguém pode saber o que aconteceu”. Superlativo era inteligentíssimo e, por isso, muito inquieto. Mas era também o mais obediente dos cachorros. Palavra-ônibus foi até a janela basculante da cozinha, que dava para o pátio, mandou-o ficar quieto e ele obedeceu.
No local do acidente, o guarda-pó percebeu que a confusão era grande demais e pediu reforço imediato. Enviaram-lhe um guarda-roupa e um guarda-volumes. Mesmo assim a situação foi ficando fora de controle, pois a pontuação, que se movimentava com muita rapidez, estava exaltada além da conta. Exclamações denunciavam aos gritos a falta de segurança no trabalho. Interrogações questionavam a competência dos guardas e do governo. Vírgulas intrometiam-se em todos os grupos, tornando os debates intermináveis. Chegavam pontos de todas as direções. Tomados de indignação, cada vez mais alterados, amontoavam-se na esquina, onde, a certa altura, começaram a protestar com palavras de ordem. A aglomeração atingiu tal proporção que se formou uma pilha negra e imensa cujo ponto culminante era o mais inflamado.
Colchetes e parênteses começaram a circundar aquela montanha convulsa numa procissão lenta e contínua. Dois pontos e aspas acusavam: “Atropelado”. Reticências se posicionavam, falando fundo à imaginação: “Desaparecido…”
Palavra-ônibus voltou da cozinha trazendo um copo d’água para Caminhão. “A ironia é que eu estava em ponto morto quando o atropelei”, ele disse. “Ele não está morto, querido, te acalma.” O ponto não tinha um só arranhão, mas continuava desacordado. “Quem sabe chamamos um médico?”, ela propôs. “Não, nem penses nisso.” Serei denunciado e preso. Tu sabes o quanto preciso trabalhar. Se Deus quiser, o pobre ponto vai despertar e me perdoar. Não tive intenção de machucá-lo. Os pontos são tão pequenos. E, pra complicar, às vezes tem-se a impressão de que não vão surgir.
Na parte moderna da cidade parecem ter sido abolidos por lei, de tanto que não são vistos. Isso confunde quem anda muito de um lado para o outro. Mas nem foi esse o meu caso. Eu simplesmente tinha pressa. Não tenho desculpa. Só não sei onde estava com a cabeça quando decidi fugir. Que grave erro. Agora não posso voltar atrás. “Vamos esperar um pouco, então.” Afinal, ele parece tão bem, respira tranquilamente.
Vai lá pra sala, descansa; liga a televisão, tenta pensar em outra coisa. Esse simpático ponto vai despertar sem demora. É tão jovem. Vou cuidar dele como se fosse um filho. “Meu filho… ”, disse a mulher. O quarto de hóspedes estava imerso numa penumbra acolhedora. Fora preparado originalmente para o primeiro filho do casal, até eles descobrirem que Palavra-ônibus não podia engravidar. Caminhão percebeu que a mulher se deixava conduzir por esse pensamento triste, mas não tentou detê-la. Saiu do quarto, foi para a sala e ligou a televisão, como ela havia sugerido.
Grego e Latino desceram do automóvel que mantinham em sociedade. Não podiam acreditar no que estavam vendo. “Passa o monóculo”, pediu Grego. “Multiforme multidão, aurifulgente caos!”, dizia Latino para si mesmo, em êxtase, o monóculo vibrando no olho esquerdo. Grego e Latino eram dois radicais perigosos. Pertenciam aos Compostos Eruditos, grupo terrorista que atuava na clandestinidade sem nunca assumir seus atentados nem deixar pistas, e que tinha por objetivo inocular na sociedade, por meio da educação e da disciplina, uma cepa dos ideais clássicos desenvolvidos por eles com o propósito de livrar os cidadãos, ou a “prole tarada”, como preferiam dizer, de barbarismos e outros ismos que a infectavam. A “prole tarada”, a rigor, era a nação inteira, vista pelos Compostos Eruditos como vítima de um coloquialismo vulgar e degradante. Se dependesse desses sediciosos, um dia o latim clássico não só estaria de volta às igrejas como seria língua franca de quitandas e bordéis; o grego seria moeda corrente em conversas nas altas esferas intelectuais e também nos xingamentos dos campos de futebol. Para chegar lá, defendiam a implantação de um Estado transitório em que o respeito a uma norma-padrão seria absoluto. Os líderes absolutistas seriam eles, obviamente, que se preparavam para serem “disciplinadores iluminados”.
Grego e Latino planejavam havia anos desencadear uma desordem de grandes proporções, que degenerasse em profunda instabilidade social e criasse as condições necessárias para a ascensão ao poder de seu líder máximo, Homúnculo, o Grande. Pois agora a desordem que esperavam estava à sua frente, genuinamente popular, como jamais fora em seus melhores sonhos. Abandonaram o automóvel ali, entre tantos outros, e se misturaram aos manifestantes. “Amigos telespectadores, estamos ao vivo, transmitindo diretamente do local onde tiveram início as manifestações que, neste momento, paralisam grande parte do centro de Ponto Alegre, capital do nosso querido e, até há pouco, pacato reino de Ponto Alegre”, falava Vocativo, conhecido repórter, ao microfone da mais importante rede de televisão do país. Ele tentava, sem sucesso, aproximar-se do local exato do acidente. “Entrevista o sujeito de monóculo que parou ao teu lado”, disse o ponto eletrônico no ouvido dele. Vocativo continuou: “Tudo começou com o atropelamento de um ponto por uma palavra-caminhão não identificada. A vítima, no entanto, está desaparecida. Vamos ouvir um cidadão. Senhor, é testemunha do que aconteceu?” “Não, mas dizem que a vítima é um ponto cego que costuma pedir esmolas nesta esquina”, mentiu Grego, sem titubear, explorando sua voz de barítono, o olho direito brilhando atrás do monóculo que compartilhava com Latino.
O telefone do Agente da Passiva tocou. A Passiva era a polícia secreta do Rei. O povo a apelidara assim e o apelido pegara, pois era sabido por todos que o Rei não tinha voz ativa nem mesmo em seus nobres aposentos. O Agente da Passiva fora um sujeito na ativa até pouco tempo antes. Após passar uma temporada de molho, entrara para a Passiva, onde começara como agente comum para, depois de uma ascensão vertiginosa, assumir a diretoria da discreta organização, que muitos julgavam uma lenda. “Alô”, disse ao aparelho. O caráter sigiloso de seu trabalho o obrigava, muitas vezes, a se comunicar de maneira cifrada. “Vem irrompendo a luz”, disse um de seus verbos auxiliares do outro lado da linha, recomendando ao chefe que ligasse a televisão. “A luz é muito apreciada por mim. O vidro da minha janela foi atravessado por seus raios”, respondeu o Agente da Passiva, dando a entender que já estava a par dos acontecimentos. Depois de assistir às manifestações por mais um tempo, colocou seus óculos escuros e ganhou a rua com ares de aposentado que sai para uma caminhada. Dirigiu-se ao gabinete do Regente, a quem se reportava agora, devido ao afastamento do Rei, que se declarara temporariamente impossibilitado de governar – o motivo alegado por Sua Majestade, e aceito pelo Parlamento, era de ordem emocional. Chegando lá, o Agente da Passiva evitou a entrada principal do prédio e encaminhou-se para uma pequena porta lateral, oculta por uma cerca viva. Anunciou-se com duas pancadas fortes e uma leve. “A ante…”, alguém disse por uma espécie de respiradouro no centro da porta. “Até após com contra de desde em entre para per perante por sem sob sobre trás”, completou o Agente da Passiva em voz baixa, aproximando o rosto da abertura. Senha confirmada, a porta foi aberta e ele entrou.
[ ... ]   [ in A Primavera da Pontuação de Vitor Ramil]

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Atitudes


“Mais do que na força das palavras, eu acredito no poder das atitudes. Na grandeza dos gestos...”    [Fernanda Gaona]





domingo, 7 de outubro de 2018

Depois da Leitura de um Poema

Depois da Leitura de um Poema
Castro Alves
(Em Sessão Literária)
(Impromptu)


Às vezes o pastor subindo aos Alpes
Lança aos abismos a canção tremente.
Responde em baixo - o precipício enorme!
Responde em cima - o firmamento ingente!

Poeta! a voz do pegureiro errante
Em ti vibrando... se alteou!... cresceu!
Tua alma é funda - como é fundo o pego!
Teu gênio é alto - como é alto o céu!


sábado, 6 de outubro de 2018

Cultura

"A cultura é a única riqueza que os tiranos não podem confiscar. Só a morte pode obscurecer a lâmpada da sabedoria que trazes dentro de ti. A verdadeira riqueza de uma nação não se se baseia no seu ouro ou prata, mas em sua cultura e civilização, e na integridade moral de seus filhos." [in "A voz do Mestre" de Khalil Gibran]



sexta-feira, 5 de outubro de 2018

domingo, 30 de setembro de 2018

Mãos de Luz



Mãos de Luz
Pedro Buonano

As mãozinhas
De luz
Na cartola mágica

Acariciam
Os macios pelinhos
Do coelho
De luz.



sábado, 29 de setembro de 2018

Vejo-te



"Quando adormeço, tristonho,
vejo-te em sonhos, querida!
- E a vida fica mais sonho!
- E o sonho fica mais vida!"  [Aparício Fernandes in Versos de Amor, nº 4]







sexta-feira, 28 de setembro de 2018

domingo, 23 de setembro de 2018

Soneto

SONETO
Carlos Pellicer


El tiempo que nos une y nos divide
- frutal nocturno y floreciente día -
hoy junto a ti, mañana lejanía,
devora lo que olvida y lo que pide.
Cuidar en él lo que al volar descuide
será internarse en su relojería;
y minuto a minuto y día a día,
sin quererlo, aunque poco, nos olvide.

Olvidados del tiempo, esos instantes,
serán de eternidad; los deslumbrantes
momentos del instante de lo eterno.

Junio en tus manos su belleza afina;
el otoño es su dócil subalterno.
Tiempo y eternidad tu alma combina.






sábado, 22 de setembro de 2018

Barcos



"Enquanto os olhos acusam
o desespero de amar;
as nossas vidas se cruzam
como dois barcos do mar!" [Aparício Fernandes in Versos de Amor, nº 4]





sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Coração



“"O coração nunca envelhece. Basta um sorriso, um nada, um alvoroço, e tudo nele se ilumina e aquece”."            [Pe. Diogo Antônio Feijó]




domingo, 16 de setembro de 2018

Deseos

DESEOS
Carlos Pellicer




Trópico, para que me diste
las manos llenas de color.
Todo lo que yo toque
se llenará de sol.
En las tardes sutiles de otras tierras
pasaré con mis ruidos de vidrio tornasol.
Déjame un solo instante
dejar de ser grito y color.
Déjame un solo instante
cambiar de clima el corazón,
beber la penumbra de una costa desierta,
inclinarme en silencio sobre un recóndito balcón,
ahondarme en el manto de pliegues finos,
dispersarme en la orilla de una suave devoción,
acariciar dulcemente las cabelleras lacias
y escribir con un lápiz muy fino mi meditación.
¡Oh, deja de ser un solo instante
el Ayudante de Campo del sol!
¡Trópico, para qué me diste
las manos llenas de color!






sábado, 15 de setembro de 2018

Súplica



"Ouve a súplica serena
de minha alma que te diz:
num simples beijo, morena,
tu me farias feliz!" [Aparício Fernandes in Versos de Amor, nº 4]





sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Sete Pecados



“Os sete pecados capitais responsáveis pelas injustiças sociais são: riqueza sem trabalho; prazeres sem escrúpulos; conhecimento sem sabedoria; comércio sem moral; política sem idealismo; religião sem sacrifício e ciência sem humanismo.”  [Mahatma Gandhi]



domingo, 9 de setembro de 2018

Campo


CAMPO
Antonio Machado


 

La tarde está muriendo
como un hogar humilde que se apaga.

Allá, sobre los montes,
quedan algunas brasas.

Y ese árbol roto en el camino blanco
hace llorar de lástima.

¡Dos ramas en el tronco herido, y una
hoja marchita y negra en cada rama!

¿Lloras?...Entre los álamos de oro,
lejos, la sombra del amor te aguarda.






sábado, 8 de setembro de 2018

Se hoje



"Ah, se hoje à noite eu pudesse
mesmo em sonhos, te beijar,
pedia a Deus que fizesse
eu nunca mais acordar!"  [Aparício Fernandes in Versos de Amor, nº 4]





sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Erros


 
“Não há nada mais certo que nossos próprios erros. Vale mais fazer e arrepender, que não fazer e arrepender.”   [Nicolau Maquiavel]




domingo, 2 de setembro de 2018

Flor da Mocidade



Flor da Mocidade
Machado de Assis (1839-1908)




Eu conheço a mais bela flor;
És tu, rosa da mocidade,
Nascida, aberta para o amor.
Eu conheço a mais bela flor.
Tem do céu a serena cor,
E o perfume da virgindade.
Eu conheço a mais bela flor,
És tu, rosa da mocidade.


Vive às vezes na solidão,
Como filha da brisa agreste.
Teme acaso indiscreta mão;
Vive às vezes na solidão.
Poupa a raiva do furacão
Suas folhas de azul celeste.
Vive às vezes na solidão,
Como filha da brisa agreste.


Colhe-se antes que venha o mal,
Colhe-se antes que chegue o inverno;
Que a flor morta já nada val.
Colhe-se antes que venha o mal.
Quando a terra é mais jovial
Todo o bem nos parece eterno.
Colhe-se antes que venha o mal,
Colhe-se antes que chegue o inverno.





sábado, 1 de setembro de 2018

Prece



"Rezei nos céus e em seguida
a mesma prece eu te fiz:
pois, se Deus me deu a Vida,
tu me fizeste feliz!"  [ Aparício Fernandes in Versos de Amor, nº 4]





sexta-feira, 31 de agosto de 2018

domingo, 26 de agosto de 2018

Em sonhos...


Em Sonhos...
Cruz e Souza

Nos santos óleos do luar, floria
Teu corpo ideal, com o resplendor da Helade...
E em toda a etérea, branda claridade
Como que erravam fluídos de harmonia...

As Águias imortais da Fantasia
Deram-te as asas e a serenindade
Para galgar, subir à Imensidade
Onde o clarão de tantos sóis radia.

Do espaço pelos límpidos velinos
Os astros vieram claros, cristalinos.
Com chamas, vibrações, do alto, cantando...

Nos santos óleos do luar envolto
Teu corpo era o Astro nas esferas solto,
Mais Sóis e mais Estrelas fecundando!



sábado, 25 de agosto de 2018

Patinho Feio



"O Patinho Feio (Hans Christian Andersen, 1843)

Tipo de narrativa: Complexa

Embora seja curta, a famosa fábula de Hans Christian Andersen tem estrutura complexa. Ela incorpora tipos narrativos de “dois homens no buraco” (ou melhor, um pato no buraco) dentro de uma narrativa de “ascensão”. Ou seja, as coisas melhoram ao longo da história para o patinho, mas há flashes de luz e escuridão no caminho.

Ele sai do ovo (oba!), mas sofre bullying por ser diferente (ahhh). Ele descobre que pode nadar melhor que os outros patos e sente um indício de afinidade com o grupo de cisnes em sobrevoo (oba!). Em seguida, quase morre no inverno gelado (ahhh). E finalmente torna-se um cisne, de uma forma completamente prevista desde o início. A ideia é essa, claro: “Nascer num ninho de pato não tem importância se ele vem do ovo de um cisne”. A história termina com a pontuação mais alta, aquele que sempre foi um cisne exclama que “nunca sonhou com tamanha felicidade”."
 
[in 'As seis tramas que são a base de (quase) todas as histórias já contadas' in Livros só mudam pessoas e 18/08/2018]