domingo, 18 de janeiro de 2015

O Anjo

Imagem de Arquivo Pessoal


O Anjo
Ferreira Gullar



O anjo, contido
em pedra
e silêncio,
me esperava.

Olho-o, identifico-o
tal se em profundo sigilo
de mim o procurasse desde o início.

Me ilumino! todo
o existido
fora apenas a preparação
deste encontro.


Antes que o olhar, detendo o pássaro
no vôo, do céu descesse
até o ombro sólido
do anjo,
                 criando-o
- que tempo mágico
ele habitava?


Tão todo nele me perco
que de mim se arrebentam
as raízes do mundo;

tamanha
a violência de seu corpo contra 
o meu, 
            que a sua neutra existência
se quebra:
                 e os pétreos olhos
                 se acendem;
                 o facho
emborcado contra o solo, num desprezo
à vida
arde intensamente;
                             a leve brisa
                             faz mover a sua
                             túnica de pedra.

O anjo é grave
agora.
Começo a esperar a morte.



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