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A vila de Anchieta
Cassiano Ricardo (1895-1974)
E num dia de janeiro
parecendo ao Padre in Domino
que era justo esse lugar,
ali, bem no alto da serra,
junto à porta do sertão,
Anchieta funda uma vila
que seria a mãe de todas
as vilas da redondezas:
casa lisas e quadradas,
brinquedo de ruas tortas.
Própria e um povo apressado
que iria rasgas caminho
rumo ao sertão ignorado.
E que Deus desse a esse povo
bons músculos e bons ossos,
e a sensação do horizonte
cheio de coisas remotas...
Santo Anchieta teve logo
a ajuda não só dos índios
mas dos bichos, pois uma onça,
tomada de humilde assombro,
lhe veio lamber a mão.
E um bando de uirás em festa
lhe veio cantar no ombro.
E o rio lhe trouxe a água
para a primeira parede.
E a água se fez orvalho
pra sua primeira sede...
E já um carijó sapateiro
que depois trabalharia
como um louco, noite e dia,
em sapatões pra Gigantes,
lhe fez um par de sandálias;
que o seu destino de santo
era o mais simples de todos.
Era, andar, andar, andar.
Ora em caminho do Mar,
ora pra dentro da Terra,
subindo e descendo a Serra
azul e perpendicular.
O seu destino era andar.
Sonho de quem mal dormia.
Olhos cheios de horizonte.
Pés tontos de correria.
Pensamento no futuro...
Sonho sonhado em chão duro.
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