sábado, 23 de junho de 2018

Canção da onda

Eu e a praia, somos dois amantes unidos pelo amor e separados pelo vento. Venho do além do horizonte azul, para juntar a prata da minha espuma ao oiro das areias, e refrescar com meu beijo o ardor do seu coração.
Desde a aurora, canto a divina lei do amor aos ouvidos de minha amada, que me aperta contra o peito e ao sol poente, recito-lhe a canção do desejo, ela me beija.
Sou a inconstância e a inquietação, minha amada é a paciência, companheira da resignação.
Quando estou em meu fluxo, abraço-a em meu refluxo estendo-me a seus pés.
Quantas vezes bailei em redor das sereias, quando elas surgiam das profundezas, para sentadas sobre as rochas, contemplar as estrelas!
Quando ouço os queixumes de um amante à sua bela ajudo-o com meus lamentos e meus suspiros.
Quantas vezes falei às rochas, e elas continuaram mudas! Quantas vezes as envolvi, rindo, sem que elas me sorrissem!
E quantos corpos salvei dos abismos do mar, devolvendo-os ao mundo dos vivos!
Quantas pérolas roubei das profundezas, para obsequiar as donzelas!
Na paz serena da noite, quando as sombras do sono abraçam os vivos, eu velo, entre arrulhos e suspiros.
Como sou feliz! Por não dormir, arruinei-me, mas sou enamorado, e a verdade do amor é sempre um despertar.
É esta minha vida, e isto o farei enquanto tiver vida...
[in p. 73-74 de Poemas de Gibran, reunidos por Mussa Kuraiem]



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