domingo, 23 de novembro de 2014

Deserto

Imagem de Arquivo Pessoal

Deserto
                                                                                       Salomão Jorge (1902 - Falecido)

Não dormi toda a noite um só instante:
Pela cama revolta, em desalinho,
Sem o aconchego ideal do teu carinho,
Como me pareceu o céu distante!

Choram comigo no deserto ninho,
Desde que o abandonaste, sombra errante,
O alto dossel de renda roçagante,
E a morna alvura dos lençóis de linho!

Tão fria, tão vazia aquela cama!
Fria, sem o calor de tua chama,
Vazia, como as naus abandonadas...

E em todo, no lençol, no travesseiro,
O teu cheiro, mulher, este teu cheiro
De rubicundas rosas machucadas!


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