Angélica

Primavera Lituana, by Lina Angélica Gumauskas 

"O instante durou cinco minutos; depois a porta se abriu e Angélica entrou. A primeira impressão foi de deslumbrante surpresa. Os Salinas perderam o fôlego; Tancredi até sentiu o pulsar das veias das têmporas. Sob o ímpeto de sua beleza, os homens permaneceram incapazes de notar, analisando-os, os poucos defeitos que essa beleza continha; muitas deviam ser as pessoas que nunca foram capazes desse exame crítico. Era alta e bem-feita, com base em generosos critérios; sua carne devia ter o sabor do creme fresco ao qual se assemelhava; a boca infantil, o de morangos. Sob a massa de cabelos cor da noite, imersos em ondulações suaves, os olhos verdes cintilavam imóveis como os das estátuas e, assim como estes, um tanto cruéis. Avançava lenta, fazendo voltear em torno de si a ampla saia branca, e trazia em sua pessoa a calma e a invencibilidade da mulher de incontestável beleza. Só muitos meses depois se soube que, no momento de sua entrada triunfal, ela estivera a ponto de desmaiar de ansiedade."  [in "Leopardo" de Giuseppe Tomasi di Lampedusa]