sábado, 13 de abril de 2019

Poirot x Japp

[ ... ]
... "Japp caminhou em sua direção, enquanto Hercule Poirot demorava-se a percorrer o quarto com os olhos.

   Era um quarto bem maior que o outro. Tinha uma janela avarandada e, enquanto o outro era simplesmente um quarto de dormir, este era uma combinação de quarto de dormir com sala de visitas.

   As paredes eram em tom prateado e o teto em verde-esmeralda. As cortinas eram em verde e prateado, com padrões modernos. Havia um divã com coberta verde-esmeralda em seda brilhante e diversas almofadas prateadas e douradas. Havia ainda uma grande escrivaninha em nogueira, uma cômoda também em nogueira e diversas cadeiras em estilo moderno, em cromo brilhante. Numa pequena mesa de tampo de vidro estava um grande cinzeiro cheio de pontas de cigarros.

   Hercule Poirot farejou o ar, delicadamente, e encaminhou-se para Japp, que olhava o corpo.

   O corpo tinha evidentemente escorregado de uma das cadeiras de cromo e era de uma mulher jovem, de seus 27 anos, com cabelos louros e feições delicadas. Havia muito pouco make-up no rosto — era um rosto bonito, mas melancólico e não muito inteligente. À esquerda da cabeça via-se o sangue coagulado e os dedos da mão direita seguravam uma pequena pistola. A moça usava um vestido simples, verde-escuro, abotoado até o pescoço.

   — Bem, Brett, qual é o problema?

   — A posição parece perfeita — respondeu o doutor. Se ela matou-se com um tiro, o corpo provavelmente teria escorregado da cadeira e caído nesta posição. A porta estava trancada e a janela fechada por dentro.

   — Então, qual é a dúvida?

   — Dê uma olhada na pistola. Eu ainda não a toquei — estou esperando pelos peritos em impressões digitais. Mas é fácil ver o que quero dizer.

   Poirot e Japp ajoelharam-se e examinaram a pistola com cuidado.

   — Estou percebendo — disse Japp, erguendo-se. Está na curva da mão. Parece que ela a está segurando, mas na verdade não está. Mais alguma coisa?

   — Muitas. A arma está na mão direita, mas a ferida é acima do ouvido esquerdo. O ouvido esquerdo, veja bem.

   — Hum — disse Japp. Parece que isto liquida o assunto. Deve ser impossível segurar uma pistola e dispará-la naquela posição com a mão direita.

   — Completamente impossível. Você pode torcer o braço, mas duvido que possa disparar.

   — O caso é bem óbvio. Alguém matou-a e quis dar a impressão de suicídio. Mas e a porta e a janela que estavam fechadas?

   O inspetor Jameson tinha a resposta pronta."

 [ ... ]               [in Assassinato no Beco de Agatha Christie]



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