sábado, 11 de abril de 2020

Desestimulante

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"– Resolveu?
– Resolvi – disse Poirot, com mais melancolia do que orgulho. – Afinal de contas, não teve muita graça. Foi uma questão de 'remplacement' da faxineira habitual: a faxineira substituta, apesar da proibição formal, trouxe um filho com ela. Embora não tenha sido muito interessante, foi preciso desmascarar uma série de mentiras, camuflagens e tudo mais. A conclusão do caso foi satisfatória, digamos, mas não foi nada importante.
– É desestimulante.
– Enfin – disse Poirot –, sou despretensioso, mas não é preciso um espadim para cortar o barbante de um pacote.
Sacudi a cabeça, com ar solene. Poirot continuou:
– Tenho me ocupado ultimamente da leitura sobre vários mistérios reais que não foram solucionados. Dou-lhes minhas próprias soluções.
– Você se refere a casos como os assassinatos de Charles Bravo, Adelaide Bartlett e outros?
– Exatamente. Mas, de certo modo, eram muito fáceis. Não tenho a menor dúvida sobre quem matou Charles Bravo. A dama de companhia dele pode estar envolvida, mas certamente não foi a autora do crime. Assim como aquela adolescente infeliz, Constance Kent. O verdadeiro motivo que a levou a estrangular o irmãozinho que amava, sem dúvida alguma, sempre foi um mistério. Mas não para mim. Desvendei-o logo que li a história. Quanto a Lizzie Borden, é pena não se poder fazer umas perguntas a algumas das pessoas envolvidas. Sei perfeitamente quais seriam as respostas. Infelizmente, receio que todos já tenham morrido."
[ ... ]
[in Os Relógios de Agatha Christie]

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