domingo, 5 de julho de 2015

Poema da Minha Morte

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Poema da Minha Morte
Sérgio de Mattos Cardoso (1925-1972)


Quando eu morrer,
os vermes hão de vir fartar-se em minha boca
e, chiando de prazer,
saciarão sua fome louca
em meus lábios e minha língua,
fervilhando de gozo, morderão...
Depois, meu coração
será servido
nesta bacanal
sem que eu solte um único gemido.
Mas, quando tudo afinal
estiver terminado,
quando, fartos de mim,
tiverem todos partido,
só completamente só
enfim,
quase de novo transformado em pó,
quase de novo nada,
descansarei na eternidade,
levando como prova da passagem por aqui,
como sinal de que vivi,
minha boca escancarada
numa larga gargalhada...



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