[ ... ]
"- Não sei, senhor.
- O que é que você não sabe?
- Bom, num certo sentido, eu não posso saber o que é que eu não sei. Isso é filosoficamente autoevidente. - Ele fez uma daquelas ligeiras pausas em que nós mais uma vez imaginamos se ele estava sutilmente debochado ou usando de uma seriedade muito além da nossa. - Na verdade, essa questão de imputar responsabilidade não é uma espécie de desculpa? Nós queremos culpar um indivíduo para que todos os outros sejam isentos de culpa. Ou culpamos um processo histórico como forma de exonerar os indivíduos. Ou é tudo um caos anárquico, com a mesma consequência. Eu tenho a impressão de que existe, existiu, uma cadeia tão longa que todo mundo possa simplesmente culpar todo mundo. Mas, é claro, meu desejo de atribuir responsabilidade pode ser mais um reflexo do meu próprio modo de pensar do que uma análise justa do que aconteceu. Esse é um dos principais problemas da história, não é,senhor? A questão da interpretação subjetiva versus a interpretação objetiva, o fato de que nós precisamos conhecer a história do historiador a fim de entender a versão que é colocada diante de nós."
[ ... ] [in 'O sentido de um fim' de Julian Barnes]
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